sexta-feira, março 11, 2005

Os deuses do Amor no Coliseu da Puberdade


Um espectáculo de luz e côr - Keane no Coliseu Posted by Hello


Há 11 anos atrás, as cartas a nivel de concertos em Portugal eram dadas pelos Deuses do grunge no mítico Dramático de Cascais, agora são os deuses do amor no Coliseu da Puberdade.
Na rua das portas de Sto Antão, às 14h já se sentia o frenesim das grandes matinés de outrora. O público, maioritariamente feminino começava a amontoar-se numa amálgama pré-menstrual de corpos imberbes nas partes baixas à porta do Coliseu e nem a chuva que banhou a capital servia para refrear os ânimos da criançada à medida que iam chegando cada vez mais espécimes com dizeres tão folclóricos como "Keane, engravida-me para a vida", "Estreia-me antes que eu
chegue à puberdade" ou "Não engravido pelo rabo".
O ar fervilhava de excitação, um pouco a fazer lembrar a multidão que destruiu o antigo pavilhão de alvalade, com a fome de concertos, no final dos anos 70.
Às 16 horas dá-se o primeiro momento de completa loucura com a abertura das portas e consequente correria acompanhada de gritinhos histéricos e quase orgásmicos, para conseguir um dos poucos lugares esmagados contra a grade, na vã esperança que algum elemento da banda repare nelas e se ofereça para as possuir como uma cabra sedenta de sexo e as deixar "with her asses in debris", parafraseando Axl W Rose.
O concerto de Rufus Wainwright funcionou como um preliminar para o enorme mar de gente, um preliminar com P grande, visto o cantor em questão ser um paneleiro. O facto de aparecer em palco com umas calças justas na zona da tranca, uma camisa com bolinhas aberta até ao umbigo e o repetir inumeras vezes a frase "Portuguese men are handsome" ajuda-nos a sedimentar esta impressão que temos.
No final deste concerto já se sentia que o ar do Coliseu estava a ficar rarefeito, possivelmente devido à enorme concentração de vaginas a segregar fluidos, o que pôs em risco o concerto de Keane, visto o Coliseu não ser dotado de um bom sistema de renovamento de ar. A situação lá se resolveu com a distribuição pelo público de toalhetes e arbres magiques.
Eis que surge o momento mais esperado da noite, a entrada dos Keane em palco. Os homens que fazem sonhar as sete mil raparigas (e Nuno Markl) que estavam presentes no espectáculo, o motivo que as levou a roubar dinheiro da carteira dos pais ou a prostituirem-se com os vizinhos.
O concerto arrancou com uma música que não conseguimos reconhecer tal era a gritaria das fãs, prosseguiu com uma sequência de outras dez músicas da banda, também sublinhadas com gritaria, desmaios e tentativas de invasões de palco e toques nos orgãos genitais dos elementos da banda e rematou com o grande êxito da banda, aquela música de merda que está sempre a dar na rádio e que nos faz mudar de posto apenas para descobrir que também está a passar nas outras dez emissoras.
A apoteose do concerto deu-se quando a banda se retirou do palco para depois voltar e tocar o seu single de novo e mais duas outras músicas igualmente más, e o gáudio das suas fãs levou a que algumas ficassem gravemente feridas ao serem esmagadas contra o gradeamento. A sua gula de entrar a correr no Coliseu e colocar-se à frente das outras só lhes trouxe escoriações, costelas partidas e hematomas.
O escoamento da multidão no pós concerto deu-se de uma maneira ordeira e cada rapariga foi para casa, no banco de trás do carro dos seus pais (que esperavam pacientemente à porta pelas suas crias), a sonhar com uma noite de sexo selvagem com todos os elementos da banda mais a equipa técnica, tudo ao mesmo tempo. Enfim, o catalizador imaginário de uma noite de masturbação infame.
De realçar ainda que o Coliseu dos Recreios ficou em muito mau estado, estando já agendadas obras de remoção do pavimento, pois, sendo este de madeira, com a humidade e as segreções vaginais, levantou todo.
Concluindo, mais uma matiné para entrar nos anais da história dos concertos em Portugal. Literalmente.