A moralidade contida - Walker

O bastião da moralidade

Este post surge como resposta a uma lacuna que estou certo, muitos de vocês também sentem, quando acordam sábado à tarde, depois de uma noite de pândega, se arrastam até ao sofá para ver a programação da tarde (aquele tipo de programas que uma pessoa, mesmo que adormeça durante uma hora, quando acorda, a acção está no mesmo ponto), e se depara com a ausência da grelha do Walker, Texas Ranger.

Algo de errado está contido na sociedade portuguesa, quando os melhores veículos portadores da moralidade há muito desaparecida, são fechados no arquivo de programas das estações televisivas. O que é feito deste diamante, desta nau de bons exemplos que navegava nas àguas tumultuosas da condição humana do ínicio do século XXI?

Depois de inúmeras batalhas perdidas com o vil alcool, o melhor a que alguém poderia ter acesso era aos grandes planos em camera lenta dos rotativos do Walker, num mundo de karaté e cowboys, onde era clara a miscelânea de influências no argumento, através de filosofias orientais, contidas na biqueira da bota de Chuck Norris, ou o espirito competitivo americano, ilustrado pelos punhos do antigo campeão de artes marciais, agora convertido em actor de elevada estirpe. Esta opção bebe muito dos clássicos mudos dos anos vinte, onde os actores, na ausência de som, tinham como unico canal de transmissão de ideias com o publico o seu corpo. Neste tipo de representação, Chuck Norris é o vértice da pirâmide.

Walker e a sua equipa de Rangers multi-étnica funcionam como uma âncora de moralidade para a sociedade actual, onde o espaço para este tipo de valores foi sendo perdido à medida a que a velocidade e o ritmo de vida foram aumentado.

Em suma, uma pérola, que por imperativos de força maior, está a ser empurrada para o abismo profundo do esquecimento, nos arquivos de uma das nossas televisões, um bastião de moralidade, onde nem o facto de ser Chuck Norris o interprete da canção do genérico ou o uso, por engano, de um nome indio (Wachau) para referenciar o protagonista principal, que significa "o de pila grande", por oposição com o nome pretendido (wache), que significaria (o lobo do vento), beliscam a carapaça desta nau pejada de valores antigos que navega numa cruzada contra a intolerância e a indiferença.